quarta-feira, março 29, 2006

UMA QUESTÃO DE CARÁTER

É regra vigente: deputado não cassa deputado por improbidade, jornalista não julga jornalista por má fé, médico não acusa médico por imperícia etc e tal. Mas blogueiro, como eu, pode fazer tudo que é visto como antiético se feito por essas categorias.
Tudo bem: o ministro doi demitido, o presidente da Caixa foi demitido. Mas quem foi o responsável pela entrega do extrato da conta poupança de Francenildo à imprensa? Seria ele, também, o responsável pela articulação da operação [malsucedida, aliás, como todo o país viu, a cores e via Embratel] para desmoralizar Francenildo diante da opinião pública, livrando, assim, a cara de Paloocci ou , ao menos, reduzindo seus efeitos?
Concordo, até, que Mattoso tenha passado o sigilo bancário do filho de d. Benta a seu ministro apenas para agradá-lo [é gesto comum entre os puxa-sacos de todas as categorias profissionais agradar a seus chefes]. Concordo que Palocci o tenha recebido e dito meia dúzia de palavrões de desabafo [ou, contido e educado como é, os tenha guardado, apenas, no pensamento]. Aceito que os funcionários da Caixa envolvidos estivessem convictos de estar, apenas, cumprindo ordens dos escalões superiores, muito embora devessem sentir, no fundo do coração, que estavam agindo de forma capaz de ferir alguém.
Nesta lambança toda pouco fica claro sobre quem recebeu as informações sobre o caseiro e as fez chegar à revista Época.
Sabe-se, por outro lado, que a sucursal da revista em Brasília deu a missão de levantar os dados sobre Francenildo ao repórter Matheus Leitão. Interesse puramente jornalístico, sem dúvida, cumprido por Matheus de forma "rápida e eficiente", conforme aprendem os reservistas artilheiros em seu primeiros contatos com a arma. Não se sabe, no entanto, como o extrato das contas, mandado levantar pelo presidente da Caixa [segundo suas próprias palavras] teria chegado ás mãos do repórter. Fica resolvida, assim, apenas a primeira dúvida: quem passou as informações à revista Época foi Matheus Leão.
Ajudaria o leitor saber que Matheus Leitão é filho de Marcelo Netto, até ontem, assessor de imprensa e homem de confiança do ministro Palocci, que seria o beneficiário final das informações, para que ele, ministro - se mau-caráter fosse -, as viesse divulgar com o objetivo, óbvio, de desmoralizar o caseiro junto à opinião pública? Talvez aí esteja a resposta para a segunda parte da pergunta. Deixo no ar, embora não satisfazendo ao leitor, a questão. Cabe-lhe tirar as conclusões.

É esperar para ver, muito embora questões de caráter, quase sempre, levem uma vida inteira mais 24 horas para se revelar.