terça-feira, maio 09, 2006

CARTA DO LEITOR: A VOZ DAS ESQUINAS

Recebemos ontem, segunda-feira, 08, correspondência do leitor Carlos Alberto Pinheiro que, com sua devida autorização, a seguir, reproduzinos na íntegra:

"REPRESÁLIA
Muitas pessoas às vezes confundem diplomacia com elegância, fineza no trato, boa educação nos gestos e atitudes, domínio do idioma francês e de outras perfumarias. Há, também, os que pensam que o bom diplomata é o que “dá nó em pingo d’água”, o que desfaz o mal feito rapidamente e está sempre em evidência, admirado e invejado pelos que o cercam.
Tudo errado!
A diplomacia se resume a uma só palavra: reciprocidade.
Fazer diplomacia significa dar o que é bom, se recebemos o bom, e distribuir maldades sempre que recebermos algo indevido ou prejudicial aos nossos interesses.
Não deve haver escrúpulo para o diplomata, quando negociar interesses de seu país. Se possível, deve-se tentar obter tudo sem dar nada.
Mas nós já sabemos tudo isso. Apenas desejamos que a diplomacia brasileira já tenha preparado um pacote de maldades para devolver ao grotesco boliviano, que o faça arrepender-se, para sempre, de ter feito a ignominiosa chantagem do preço do gás com o Brasil. Esperamos, também, que a diplomacia convença o cavalheiro que nos governa a tratar de começar a defender os interesses brasileiros, antes que o futuro lhe reserve a pecha de traidor de sua pátria.
Até o momento, não consegui acreditar que o presidente brasileiro tivesse sido apanhado de surpresa com a decisão boliviana. Qualquer pessoa que é surpreendida por atitudes de terceiros que lhes sejam prejudiciais tem, de imediato, uma reação de repulsa, de enérgica contestação. E não foi o que vimos. O governo brasileiro reagiu como se a atitude boliviana já fosse prevista, como se fosse uma questão antes discutida sigilosamente e, talvez até, previamente avalizada, hipótese que nos deixa apavorados e na qual não queremos acreditar.
Cabe ao governo brasileiro desfazer essa má impressão, determinando que se levante, o mais rapidamente possível, os fatores de força e fraqueza de ambos os lados (se é que já não estão disponíveis nas gavetas do Itamaraty) e desfeche ações de represália diplomática e comercial, para compensar o prejuízo que vamos ter com o aumento do preço do gás que, certamente, teremos que engolir nos curto e médio prazos.
A Bolívia é, como todos sabemos, um pobre país, com poucas possibilidades. O Brasil seria, para ela, um elemento de sustentação essencial. Precisamos fazer a sociedade boliviana esclarecida entender que represálias, por parte do Brasil, serão muito mais danosas do que continuar a vender o gás a preços módicos e dentro das regras acordadas.
O que me assusta, em parte, é o pouco entusiasmo com que certos brasileiros importantes vem tratando o assunto. Acho que já deveria ter havido, por parte do Congresso Nacional, atitudes mais enérgicas, na direção do governo brasileiro, exigindo um leque de contrapartidas a serem adotadas contra a decisão boliviana, no que prejudica a economia nacional e o bolso do consumidor brasileiro.
Ninguém está falando em guerra, embora elas existam para enfrentar situações em que a diplomacia seja insuficiente. Mas não se pode descuidar das preocupações nesse campo, pois os distraídos, ainda que militarmente muito mais preparados, podem se dar mal.
Na minha opinião, a nação brasileira foi ofendida. A honra nacional não pode ser vilipendiada, sem que se dê a adequada resposta.
Alerta brasileiros responsáveis. Vamos exigir a contrapartida merecida.

Rio de Janeiro, em 7 de maio de 2006.
PAULO ROBERTO PINHEIRO"

Deixo para você, leitor, avaliar a repercussão que o posicionamento do governo brasileiro tem tomado nesta questão da "nacionalização" das indústrias petrolíferas instaladas naquele país vizinho.
Ouça, por favor, a voz das esquinas; a voz que Suas Excelências não estão mais acostumadas a ouvir.