quinta-feira, maio 04, 2006

É HORA DE ACABAR COM ATITUDES VACILANTES

Causa-me estranheza, desde que teve início a presente "guerra do petróleo" com a Bolívia, o aparente alheamento do Itamaraty em relação à questão.
Explico, leitora: há no Brasil algumas [cada vez vez menos, é bom que se lembre] instituições que merecem o respeito incondicional do povo, entre tantos outros - para sermos bastante breves - a Petrobras, o Instituto Oswaldo Cruz, o Colégio Militar, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) [em S.José dos Campos], a Escola Naval, o Colégio Pedro II , o Instituto Militar de Engenharia [na Praia Vermelha] e a boa e velha Casa de Rio Branco.
Onde nossa diplomacia desde que eclodiu o problema com a Bolívia? Temos visto - com muita badalação até, a meu ver, o que não é de meu gosto - a figura do assessor presidencial Marco Aurélio Garcia, entrevistado aqui e acolá a expressar sua opinião [será a do Governo do Brasil?] a respeito do que muitos consideram violência inaudita do cocaleiro Morales, democraticamente eleito pelo povo boliviano, não esqueçamos. Onde o Itamaraty?, insisto. Onde nossos diplomatas de carreira, preparadíssimos para o enfrentamento de questões de tal natureza? Onde, até mesmo - com o devido respeito -, o Sr. Ministro das Relações Exteriores? Sabe você, leitora? Eu, confesso, desconheço completamente.
Eis que é feito vir de seu merecido descanso a figura do embaixador aposentado Rubens Ricupero, a recuperar o respeito que todos temos pela casa que o formou, graças à competente jornalista Míriam Leitão. São dele, na entrevista que o velho representante do Itamaraty a ela concedeu, as seguintes observações:

"Nunca aceitamos negociar sob uma posição de força, nunca pautamos a política externa por razões ideológicas, nunca fomos frouxos ou mostramos falta de firmeza. Eu sou um embaixador aposentado e tenho simpatia por várias posições do atual governo, como a luta por uma cadeira na ONU, mas se falo é porque é um absurdo considerar que o que a Bolívia está defendendo é a sua soberania nacional. Ela expropriou ativos do Brasil e rasgou tratados que foram negociados de Estado a Estado [...] A Petrobras está na Bolívia numa condição diferente de outras petrolíferas. Foi para lá no contexto de acordos internacionais que começaram logo ao fim da Guerra do Chaco, em 1938, quando já se falava de cooperação energética. Depois uma comissão bilateral, da qual participei, presidida por Paulo Bellotti, negociou o acordo assinado pelo presidente Geisel e pelo ministro Silveira em 22 de abril de 1974, em Cochabamba, quando o Brasil já se comprometia a comprar gás da empresa. Outras difíceis negociações foram fechadas. Não de empresa a empresa, mas de Estado a Estado [...] Foi com base nesses acordos que o Brasil construiu um gasoduto de 3.000km que custou US$ 8 bilhões. O governo tinha que deixar clara sua revolta, tinha que mostrar que não aceitará este desaforo. Eles violaram compromissos internacionais com o Brasil e o Brasil responde que isso é a soberania deles? O que a Bolívia fez viola o espírito e a letra dos acordos nos quais a Petrobras se baseou para investir. É ruptura unilateral, o Brasil tem que fazer valer seus direitos internacionais [...] Não se pode aceitar negociar assim, quando o outro lado está numa posição de força. Numa discussão com a própria Bolívia, no começo da República, o Barão do Rio Branco não aceitou a declaração de soberania deles sobre o Acre e conduziu a negociação que levou ao Tratado de Petrópolis. Mesmo se fosse uma questão de soberania boliviana, quando se rasga o contrato, perde-se a razão. A Argentina tinha direito sobre as Malvinas, sempre reconhecemos isso, mas, quando invadiu as ilhas, perdeu a razão. Nunca fomos assim com esta falta de firmeza, estas confusões ideológicas. Nós nos distanciamos demais do que sempre foi nossa tradição diplomática [...] Nós éramos a melhor chance que eles tinham de investimento e crescimento, mas o Brasil não pode aceitar calado que o país ocupe com forças militares as instalações de uma empresa brasileira, que está lá para cumprir tratados dos países, e dizer depois que aceitamos negociar [...] Hugo Chávez não ajuda em nada; pelo contrário. Também está impondo mudanças unilaterais nos contratos com as empresas que foram para a Venezuela explorar o petróleo do Orinoco. Morales fez o que fez por inspiração do modelo venezuelano. Ambos têm com o Brasil uma política de duplicidade de posições e propósitos. "

É chegado o momento de se acabar com as palavras e ações vacilantes que temos visto nos últimos dias: não é nada de mais, respeitáveis autoridades deste país, ver, ouvir, aprender e chamar quem sabe para ajudar a resolver os problemas decorrentes da trapalhada anunciada previamente pelo cocaleiro e - tempos atrás - apoiada por S.Excia, o Presidente Lula da Silva.
E que se restitua o respeito que todos nós - brasileiros - devemos à instituição Itamaraty e nossos vizinhos ao Brasil.