sexta-feira, maio 05, 2006

A QUEM INTERESSAR POSSA

Do ministro Marco Aurélio Mello ao tomar posse, ontem à noite, quinta-feira, 4, como presidente do Tribunal Superior Eleitoral-TSE:

"Perplexos, percebemos, na simples comparação entre o discurso oficial e as notícias jornalísticas, que o Brasil se tornou um país de faz-de-conta
[destaque nosso]. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam - o que lhes daria uma carta de alforria prévia para continuar agindo como se nada de mal tivessem feito. Faz de conta que não foram usadas as mais descaradas falcatruas para desviar milhões de reais, num prejuízo irreversível em país de tantos miseráveis. Faz de conta que tais tipos de abusos não continuam se reproduzindo à plena luz, num desafio cínico à supremacia da lei, cuja observação é tão necessária em momentos conturbados" [...] A rotina de desfaçatez e indignidade parece não ter limites, levando os já conformados cidadãos brasileiros a uma apatia cada vez mais surpreendente, como se tudo fosse muito natural e devesse ser assim mesmo [...] (Vive-se) a tática do avestruz: enterrar a cabeça para deixar o vendaval passar [...] A repulsa dos que sabem o valor do trabalho árduo se transformou em indiferença e desdém, como acontece quando, por vergonha, alguém desiste de torcer pelo time do coração e resolve ignorar essa parte do cotidiano [...] São tantas e tão deslavadas as mentiras, tão grosseiras as justificativas, tão grande a falta de escrúpulos que já não se pode cogitar somente de uma crise de valores, senão de um fosso moral e ético que parece dividir o País em dois segmentos estanques - o da corrupção, seduzido pelo projeto de alcançar o poder de uma forma ilimitada e duradoura, e o da grande massa comandada que, apesar do mau exemplo, esforça-se para sobreviver e progredir [...] Ao reverso do abatimento e da inércia, é de conclamar o povo, principalmente os mais jovens, a se manifestar pela cura, não pela doença, não pela podridão do vale-tudo [...] Ao usar a voz da urna, o povo brasileiro certamente ouvirá o eco vitorioso da cidadania [...] Não haverá contemporizações a pretexto de eventuais lacunas na lei [...] Não ocorrerá tergiversação capaz de turbar o real objetivo da lei, nem artifício conducente a legitimar a aparente vontade das urnas, se o pleito mostrar-se eivado de irregularidades [...] Esqueçam, por exemplo, a aprovação de contas com as famosas ressalvas [...] Passem ao largo das chicanas, dos jeitinhos, dos ardis possibilitados pelas entrelinhas dos diplomas legais [...] Nenhum fim legitimará o meio condenável."

Marco Aurélio Mello, o novo presidente do TSE, não citou nomes. Infira o brilhante leitor, se lhe aprouver, a quem se referem as palavras do ministro, sobretudo quando trata o Brasil como um país de faz-de-conta.
Eu cá tenho minhas idéias a respeito. E você?