quinta-feira, junho 01, 2006

GENTE FINA É OUTRA COISA

Brasília, 31 de maio de 2006
Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo, comparece a reunião no gabinete do presidente Lula da Silva no Palácio do Planalto, a convite deste. Assunto: sucessão presidencial.
Após o encontro, o ministro Tarso Fernando Herz Genro, das Relações Institucionais - que participou do encontro ao qual também compareceu o senador Aloizio Mercadante, candidato ao governo paulista - almoça com os líderes no Senado e na Câmara da ala fiel ao governo: senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP) e deputado Jader Barbalho (PA).
"Nós queremos o PMDB com Lula, com ou sem coligação. Queremos o PMDB para governar o Brasil em conjunto, em cima de um programa definido, para assumir responsabilidades iguais e compartilhadas", afirma o ministro Tarso Genro após o almoço.
Solene, responde Quércia:
"Temos de levar em conta que o presidente é um candidato em condições de ser reeleito. Evidentemente que há interesse político do PMDB em avaliar essa questão com muita simpatia",
Terminado o encontro com os líderes, diz o ministro não ter qualquer dúvida de que o PMDB acompanhará o PT na marcha para a reeleição de Lula. Afirma ele:
"Primeiro, é necessário para a governabilidade do país uma aliança sólida, uma espécie de compromisso histórico do PT com o PMDB para formar uma frente de centro-esquerda para governar. Segundo, que essa frente teria que ser com base em programas. O terceiro ponto é sintetizada na seguinte frase: PMDB com Lula, com ou sem coligação."

São Paulo, campanha eleitoral, 1994
Lula da Silva e Orestes Quércia disputam - sem sucesso - a Presidência.
Diz o paulista, em fevereiro, que "o candidato da direita é Lula, com seu partido fascista".
Ao que este retruca afirmando que Quércia, este sim, utilizava "métodos semelhantes aos da Gestapo".
Replica Quércia:
"Lula pertence a um partido que durante o dia finge defender os trabalhadores e à noite bebe uísque com a burguesia [...] Lula nunca dirigiu nem um carrinho de pipoca".
Vem a tréplica logo em seguida:
"É verdade que nunca dirigi um carrinho de pipoca, mas também nunca roubei a pipoca".

São Paulo, eleiçoes presidenciais, 1998:
"O Lula eu respeito e admiro", diz Quércia.

São Paulo, eleições presidenciais, 2002:
Diz o futuro presidente:
"Até agora não teve nenhuma acusação [contra Quércia] concretizada".

Em tempo:
O não-candidato Lula da Silva faz reunião - eminentemente de campanha - em seu gabinete e ninguém vê e ninguém sabe [virou moda]. Prova disso foram as peremptórias declarações do ministro Genro [que compareceu à reunião] negando que o presidente tenha oferecido a vice-presidência, em sua chapa, ao PMDB.
Quem estava com a televisão ligada viu, como eu, nos jornais da noite - logo após a notícia da reunião e de sua pauta -, o ministro das Relações Institucionais negar o que nela ocorrera de fato.
Como a negar, será esta a razão da perda de memória?, que o presidente Lula estava em plena campanha eleitoral em seu gabinete.

Falta pouco mais de uma semana para a Copa do Mundo começar. E aí ninguém vai mais se preocupar com essas bobagens...