
"O problema não é falta de recursos, mas a má aplicação [...] Até agora há pouca racionalidade na concessão de benefícios de transferência de renda e no instrumento de gestão desses benefícios [...] inegavelmente estamos diante de uma crise de valores sem precedentes na história do país marcada pelo abuso de funções públicas para fins particulares configurando uma das mais graves e urgentes questões que a sociedade brasileira deverá enfrentar [...] Os aventureiros de hoje passam por cima do espírito de patriotismo da esmagadora maioria da população. Tudo em nome da idéia que os fins justificam os meios. Pisoteiam sem nenhum escrúpulo os que lutam para sobreviver com decência e dignidade.”
Engana-se a bem informada leitora se atribuir ao candidato da oposição, ex-governador Geraldo Alckmin, a autoria das palavras acima transcritas. Não são dele - sequer de outros políticos dos partidos e facções que se opõem ao governo de Lula da Silva - expressões tão duras; são, nada mais nada menos, a transcrição de parte do texto do relatório em que o ministro Valmir Campelo, do Tribunal de Contas da União (TCU), faz ressalvas [30, no total, todas aprovadas por seus pares] às contas do governo relativas ao ano de 2005.
Destacam-se, entre outras ressalvas, as que dizem respeito à distribuição [não fiscalizada] de R$ 1 bilhão pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome aos municípios e à inclusão de R$ 2 bilhões do programa Bolsa-Família nos gastos com Saúde [que facultaram ao governo de S.Excelência Lula alcançar os 25% de investimentos naquela rubrica, conforme determinado pela Constituição.]
Alerta, ainda, o parecer do relator Campelo que apenas 5,1%, ou seja R$ 55,7 bilhões, foram destinados - no ano de 2005 - à educação, saúde e segurança pública, do total de R$ 1,1 trilhão despendido pelo governo que, também, não cumpriu o limite mínimo de aplicação de recursos na erradicação do analfabetismo e na manutenção e no desenvolvimento do ensino fundamental [limite esse não alcançado, da mesmo forma, em 2004]: os R$ 3,1 bilhões aplicados foram inferiores ao limite em R$ 34,4 milhões.
Pense nisso.
Periga é o presidente, amanhã ou depois, dizer que está sendo "torturado" - é a última moda - pelos ministros do TCU.
(Foto: TCU-Edifício Sede)