Passadas exatas treze - eu disse treze, grande mestre Zagallo - Copas do Mundo após a derrota do Brasil para o Uruguai por dois a um, no ano de inauguração do Maracanã, volta a imprensa a lastimar em letras de forma e [pior que isso] a procurar o culpado pela derrota do chamado Esquadrão Canarinho para os franceses.
Não seria melhor pesquisar e entender os reais méritos que levaram os "bleus" à vitória? Valeria a pena questionar o que teria levado o presidente Chirac, com sua pompa e elegância, ao estádio de Frankfurt para ver o maravilhoso gol do presunçoso Henry? Seria justificável um esforço, pequeno que fosse, para entender o porquê do desempenho incomparável de Zidane?
Ou é mais fácil, simplesmente, culpar o herói mestiço Cafu de outras copas? Ou o mais novo dos Ronaldos, o que veio do sul, filho de uma senhora cuja humildade sempre que a vejo, me leva ao limite das lágrimas? Ou é mais simples perguntar [com ironia] o que faz o velho Zagallo sentado silencioso ao lado da equipe técnica da seleção?
Perdemos; perdemos, sim. Como perdemos em 50. Como perdemos em 82. Como perdeu a Hungria de Puskas. Como perdemos em muitas outras copas. Como muitos outros favoritos já perderam.
Ganharam os franceses num dia em que foram os melhores. Como conquistaram a taça de campeões [e a equipe vencedora de ontem nem a isso sabemos se chegará] alguns outros que foram bem piores que seus adversários.
Em futebol, senhores da imprensa especializada, há três resultados: vitória, empate ou derrota. E os senhores - todos - têm consciência disso; sabem disso melhor que qualquer técnico dos 180 milhões de técnicos que vivem neste país.
Hão de dizer outros, como já ouvi quem dissesse: "O Parreira é um incompetente." Outros que insistirão em perguntar de que maneira fez ele sua carreira. Que devia feito isso ou aquilo, antes ou depois deste ou daquele momento do jogo. E tantas e tantas outras questões muito bem elaboradas e prontas para uso nos momentos de derrota.
Deixem comissão técnica e jogadores em paz; relevem seus erros neste momento difícil que passam. Ninguém joga para perder.
Por críticas como as que estou vendo e ouvindo, Barbosa, um crioulo simples, um homem bom, goleiro do Vasco - talvez um dos melhores que o Brasil já teve oportunidade de conhecer - e da seleção de 50, viu sua vida tranformar-se em um circo de horrores e chegar a hora de sua morte solitário e infeliz como viveu a partir daquela derrota para o Uruguai [vejam, n'O Curta em Questão aí à direita, o famoso gol de Ghiggia].
Atentem, senhores. Perdeu a Seleção do Brasil, com maiúsculas sim, apenas uma partida de futebol. Este país vê e passa por coisas muito piores, todos os dias, com muito menos preocupação.
Em tempo: Ouça - na coluna "Ouça o estão dizendo" à direita - o rápido pronunciamento do Prefeito Mendes de Morais poucos minutos antes do início do jogo do Brasil com o Uruguai em 1950.