segunda-feira, julho 31, 2006

PROBLEMA É ENCONTRAR ESSE TAL DE "DESVIO DE PERCURSO" PELO MEIO DO CAMINHO. NÃO SERIA A PRIMEIRA VEZ...

Principal trunfo eleitoral do candidato à reeleição em outubro próximo o Bolsa-Família só viu o número de famílias inscritas crescer: 3,6 milhões de beneficiados em 2003, 6,5 milhões em 2004, 8,7 milhões em 2005 e, agora, 11,1 milhões. Enquanto isso, o valor médio dos repasses às famílias passou de R$ 75,43 em 2003 para R$ 61,02 no corrente ano. Para quem não tem muita familiaridade com esse negócio de números, parece ficar clara, pelo exposto, a explicação para que o cadastro oficial do programa registre tão grande número de beneficiários.
Deixaram, voluntariamente [abrindo mão do benefício por ultrapassarem o limite máximo de renda por pessoa, R$ 120,00], a tutela oficial do Bolsa-Família, somente 2.000 famílias. Outras 250 mil foram descredenciadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social por ultrapassarem aquele valor e não darem conhecimento do fato aos responsáveis pelo programa.
Detalhe importante, atenta leitora: mesmo considerada a redução do valor médio dos repasses [de 19,10%] o custo do Bolsa-Família disparou, no período 2001-2006, de R$ 3,5 para R$ 8,3 bilhões.

Diz Anna Peliano, socióloga - que no governo FHC coordenou o programa Comunidade Solidária [semente do que viria a ser o Bolsa-Família de Lula] -, hoje diretora de Estudos Sociais do Ipea e estudiosa das questões de combate à fome e à pobreza, não acreditar que o programa "... seja um desestímulo ao trabalho...". Ressalva, porém, educadamente: "A questão agora é fazer com que as crianças entrem e permaneçam nas escolas até a 8ª série. O acesso à escola é grande, mas a evasão é um problema sério. O cumprimento das condicionalidades é uma etapa do Bolsa-Família que não se pode dizer que foi superada. Ficou um pouco esquecido...". Para quem sabe ler e ouvir...

Já Lena Lavinas, economista, pofessora da UFRJ, para quem fixar limites para o programa é um erro, complementa, com mais vigor, o raciocínio de Peliano:
"Quando o governo diz que atingiu a meta de 11,1 milhões de famílias, está pressupondo que conseguiu atingir integralmente o público-alvo. Isso seria absolutamente surpreendente se de fato tivesse ocorrido. Em nenhum lugar acontece. Essa propaganda que está sendo feita é um engodo [...] Há pessoas que recebem e não deveriam estar recebendo e, principalmente, pessoas que deveriam e não recebem. O Bolsa-Família não é um direito do cidadão, é uma fila que se organiza. Não significa que está chegando naquele que mais necessita, mas naqueles que se organizam."

Fato é que, engodo ou não, o Bolsa-Família parece estar atingindo seus pricipais objetivos [quero dizer, os políticos]: servir de carro-chefe para transportar Lula da Silva na estrada da reeleiçao.
Mas há sempre a possibilidade de um desvio de percurso; aí, prezado leitor, não há expediente, por melhor que tenha sido trabalhado, que possa levar Sua Excelência para o bem-bom em que viveu nestes últimos quarenta e quatro meses.
Já vi esse filme outras vezes.