Trecho do discurso de posse na presidência do Clube Militar do General de Exército Gilberto Barbosa de Figueiredo
"... Preocupa-me, por outro lado, a fase de turbulência política que nosso País atravessa e que, obrigatoriamente, produzirá reflexos no Clube. Vivemos em uma época em que a corrupção, dentro dos próprios Poderes da República, é dissimulada sob as justificativas mais inconsistentes; as Forças Armadas são sucateadas, aviltadas, mal remuneradas; a violência aterroriza, mina a auto-estima do cidadão de bem que, por vezes, tem de proteger-se atrás de grades, enquanto malfeitores, preservados por estranhos direitos, vivem à solta; a dignidade nacional é arranhada, causando perplexidade e indignação a tantos que se acostumaram a ver nossa diplomacia, através da história, agir com invejada proficuidade, sempre em defesa dos interesses do Brasil – e o caso Bolívia ainda não está encerrado, o que é mais inquietante.
Mas, dentro de todo esse quadro caótico, há algo que ainda mais me angustia: é o sistemático desrespeito à lei, praticado impunemente. É o império da barbárie. É a negação da democracia. É o domínio da insensatez. O princípio primeiro do convívio civilizado está no respeito às normas legais. Não se pode imaginar a consolidação de um regime democrático quando se observa, de forma regular e constante, por segmentos da sociedade, uma agressão consentida à lei e à ordem.
E aqui não estou referindo-me apenas ao recente e constrangedor episódio da invasão da Câmara dos Deputados, um dos Poderes da República, por uma horda de vândalos. Este foi, apenas, o último feito de uma seqüência de atos tresloucados. Foi a exaltação da ausência de autoridade que se dobra, tanto em face do crime organizado, quanto ante a ilicitudes praticadas sob o disfarce de movimentos sociais.
O pouco caso com a lei vem acontecendo de forma sistemática e crescente. Os movimentos ditos sociais invadem terras produtivas, destroem sedes de fazendas e seus maquinários, matam gado, em tudo ateiam fogo, ameaçam produtores rurais, estabelecem pedágios em estradas, saqueiam caminhões, invadem prédios públicos. Todos se recordam do incidente no Rio Grande do Sul, quando um centro de excelência em pesquisas – da Aracruz Celulose – foi invadido, a título de protesto contra multinacionais.
Para bem avaliarmos a incivilidade desses atos, basta recorrer a nossa Constituição, que em seu Art 5º prescreve: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
O Estado de Direito significa que ninguém, seja quem for, está acima da lei, que não pode ser aplicável unicamente a alguns indivíduos ou grupos. Em uma democracia, incontestavelmente, tem de haver espaço para as reivindicações sociais, mas, para se manter o status de país civilizado, não é admissível que elas aconteçam através da anarquia..."
Acho que catucaram a onça com vara curta por demasiado. A seu julgamento, cansado e esclarecido leitor.
OBS. - Para tomar conhecimento da íntegra do discurso visite a seção "Destaques", na coluna da direita, e veja Posse do Gal.Figueiredo.