sexta-feira, setembro 01, 2006

CORREIOS: PREFERÊNCIA AO BRADESCO. DÁ PARA ENTENDER?

Quem não viu, tempos atrás - certamente estarrecido - a imagem daquele alto funcionário [concursado] dos Correios recebendo propina de R$ 3 mil?
Finalidade, em princípio, do "cala a boca": concessão de favores ao proponente que diziam respeito a concorrência de pequeno vulto que se efetuava [ou efetuaria, não lembro] naquele órgão.
Pois bem, caríssima leitora, foi desta imagem, lembra?, que surgiu o chamado escândalo do mensalão que não há brasileiro com mais de doze anos de idade, hoje em dia, que desconheça, à exceção do quase desmemoriado ex-metalúrgico candidato à reeleição.

Causou-me tanta espécie a cena do suborno - repetida à exaustão na midia - que, ainda hoje, ao passar diante de qualquer instalação dos Correios, vem-me à memória a lamentável cena. Acredite se quiser, paciente leitora: foi tamanha minha indignação que nunca mais coloquei os pés em qualquer agência daquela empresa.
Ontem, porém, obrigado a fazer remessa por Sedex para amigo em São Paulo, vi-me na contingência de - apesar de impossibilitado, praticamente, de andar - deslocar-me até os Correios [Agência Ataulfo de Paiva, Leblon] para cumprir a tarefa.
Era quase incontido o mal estar que me acometia pelas dificuldades decorrentes da doença; pior que tudo era a imagem - que não me saía da cabeça - daquele senhor de aparência respeitável, funcionário de carreira como cansou de dizer, recebendo a gorjeta de três mil reais.

Evidente que não me sentia confortável. Mais ainda quando - ao tentar pagar o serviço - vi recusados, pela ordem, o cartão magnético de meu banco, um cartão de crédito de âmbito nacional e outro de abrangência internacional. Motivo alegado pelo caixa que me atendeu: os Correios só recebem pagamentos efetuados com dinheiro à vista, cheque pessoal do cliente ou - pasme, leitora - com cartão magnético do Bradesco.
Não compreendi o fato de não serem aceitos cartões de outros bancos. Mais ainda quando o funcionário que me atendia [constrangido, ao que me pareceu] esclareceu que o procedimento que me impunham decorria de convênio firmado com aquele banco [Bradesco].
Tentei entender o bom motivo que levava um órgão público [os Correios] a manter convênio com um banco particular. Não seria mais coerente aceitar, independentemente de concorrência pública - em que se gastam recursos, perde-se tempo e corre-se o risco de ver falcatruas como as que têm ocorrido por esse Brasil afora -, cartões magnéticos de quaisquer que fossem os bancos, o mesmo se aplicando às diferentes bandeiras dos cartões de crédito? [Vem-me à memória, ao relatar este fato, a banca de jornais quase em frente a meu apartamento: chegue-se lá, a qualquer hora, com cartão de qualquer banco e se será bem recebido]. Ou não seria mais razoável que se utilizasse o Banco do Brasil ou a Caixa Econômica, sem convênio ou qualquer outra coisa? Sei lá...
Sei, apenas, que nem a Gerente da agência e nem a atendente do número que me indicaram procurar [0800-570-0100] puderam explicar a boa razão do convênio com o Bradesco.

Solicitou a atendente que eu aguardasse carta dos Correios dentro de quatro dias. Estou quase certo que, em linguagem bem burocrática, responderão exatamente o que eu não quero saber.

Gostaria, em verdade, de saber: a) qual a boa razão de um convênio firmado entre os Correios e o Bradesco? b) se n
ão seria melhor firmar convênio com o Banco do Brasil ou com a Caixa Econômica, órgãos, também, públicos? c) ou, se melhor seria não fazer convênio algum e o cliente dos Correios que escolhesse a forma de pagar?

Lembrem os senhores dirigentes daquele órgão que o povo brasileiro anda com a pulga atrás da orelha.
Já imaginaram se alguma auditoria encontra um engano qualquer [engano mesmo, não molecagem] - por mínimo que seja - no convênio assinado com o banco privado? Já imaginaram a lambança que vai dar?

Continua em minha cabeça a imagem daquele senhor, alto funcionário concursado, recebendo um "cala a boca" de três mil reais...