segunda-feira, setembro 04, 2006

PARA LER NO HORÁRIO DA PROPAGANDA ELEITORAL E NÃO ESQUECER DO PROMETIDO "ESPETÁCULO DO CRESCIMENTO"

Anda o nosso ex-metalúrgico candidato à reeleição gastando o tempo gratuito que lhe é oferecido nas emissoras de rádio e estações de TV [e pago por nós, que acabamos, sempre, pagando a conta do pato que eles comem], reclamando das elites, da oposição, dos que não torcem pelo Corinthians e pelo Flamengo - ambos lá embaixo no Brasileirão, em vias de cair para a Segundona - e de todos aqueles que têm criticado o pífio crescimento - apenas 0,5% - da economia cabocla no trimestre que passou.
São, como ele diz, "a torcida contra... que quer que o Brasil vá para o buraco... a gente que teima" em dizer que tudo que é por ele feito não vale nada etc etc etc [os etc's são palavrões piores que aqueles com que brindou diversos países e dirigentes de nações amigas nestes seus quase quatro anos de governo].

Não notamos nós, pobres analfabetos, que a queda dos resultados na economia deveu-se - entre outras razões de mesmo porte - à redução do tempo de trabalho [culpados são os patrões, ora bolas] enquanto apreciávamos nossos craques da bola fazendo aquele vexame na terra de Goethe durante a Copa do Mundo? E não me venham querer comparar o segundo com o primeiro trimestre do ano, quando as pessoas caem é na esbórnia durante os não sei quantos dias de carnaval, época de férias e de verão [quando o bom mesmo é para ir à praia, amigo, pois que ninguém é de ferro].

É o que diz o senhor candidato, orientado, por certo, pelos puxa-sacos de plantão e - pasme leitora - até por alguns sinceros defensores de tais justificativas malucas.

Mas quais serão os inimigos de Lula da Silva nestas alturas do campeonato?
Doutra feita - à época do Escândalo do Mensalão - disse ele que havia sido traído; achamos todos que, entre os traidores [inimigos, obviamente], estavam os Zés [Dirceu e Genoíno] que andam frequentando, ultimamente, o Palácio do Planalto e aparecendo em fotografias que só servem para nos envergonhar.
Mas deixa isso pra lá...

Vejamos o que pensa do futuro da economia brasileira - e do Brasil - por conseqüência, o IEDI, que entende do assunto.

Criado em 1989, para os que não sabem, o IEDI-Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial reúne, presentemente, 46 empresários representando empresas nacionais de grande porte. Motivou sua criação - por um grupo de empresários nos anos 80 - o panorama de profunda instabilidade macroeconômica, o que os levou a formar o embrião do que é hoje o instituto.

É este órgão que publica, em sua última edição, análise da conjuntura nacional em matéria que recebeu o título "Ficando Para Trás"; transcrevemos, abaixo, parte do que nela está contido:

"O Brasil continua apresentando um desempenho econômico que deixa bastante a desejar. Isto é explicitado em recente relatório da ONU que projeta uma expansão apenas modesta para o Brasil no corrente ano, de 3,7%. É bem diferente das taxas projetadas para Rússia, China e Índia. Dessa trinca, a economia russa é a que deve crescer menos - 6,0% contra 9,6% e 7,4%, respectivamente - mas ainda assim sua expansão deverá ser expressivamente maior do que a brasileira, que, a propósito, dificilmente chegará ao percentual estimado.
Também na América Latina, as projeções têm sido mais otimistas. Assim, espera-se que a Argentina cresça 6,5%, enquanto a América Latina e Caribe com um todo, 4,6%.
O produto interno do Brasil cresceu tão-somente 0,5% no primeiro trimestre do ano vis-à-vis o trimestre imediatamente anterior (dados dessazonalizados). Dentre os elementos concorrentes a tanto está a variável investimento, tão necessária para perspectivas de geração de emprego e de ampliação da capacidade instalada.
Além deste ponto, há de se destacar os seguintes itens:
- O referido incremento de 0,5% no trimestre está em linha com o comportamento evidenciado na Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIMpf).
- Na comparação entre abril-junho de 2006 e igual período de 2005, o PIB a preços de mercado cresceu 1,2%.
- Tomando-se o acumulado do ano, o País logrou um crescimento de 2,2% frente ao período equivalente do ano passado.
- Já pelo confronto entre o acumulado dos quatro últimos trimestres e o acumulado dos quatro trimestres anteriores, a expansão atingiu 1,7%, dando sinais de desaceleração – o mesmo comparativo para o primeiro trimestre resultou numa taxa de 2,4%; para o quarto trimestre de 2005, 2,3%; para o terceiro trimestre do ano passado, 3,1%; em abril-junho de 2005, 4,4%; em suma, a taxa vem declinando quase ininterruptamente..."

Referindo-se, ainda, ao PIB, ressalta a análise do IEDI:
"...Com o resultado divulgado hoje pelo IBGE para o PIB brasileiro, fica bem distante da realidade a perspectiva de um crescimento entre 4% e 4,5% para este ano. Mesmo para um crescimento mais modesto, como 3,5%, a evolução do segundo semestre teria de se acelerar para níveis que hoje parecem difíceis de serem alcançados".

Estimo que S.Excia não veja no economista Júlio César Gomes de Almeida - atual secretário de Política Econômica do governo federal - um desses "inimigos" de que tratamos acima, pertencentes ao que ele chama de "torcida do contra", e que os petistas costumam acusar de elite conspiradora contra o governo. Foi ele [Gomes de Almeida] um dos inspiradores do IEDI e não me parece que tenha rompido relações com a instituição depois de convidado para o exercício do cargo que ocupa; é de se crer, também, que não discorda do conteúdo da matéria que, em parte, reproduzimos.

E agora, José, como ficamos?