segunda-feira, setembro 11, 2006

SUMIU? O PT ACHOU, SEUS BOBALHÕES DA REPÚBLICA

Simples senhor Ministro do TCU Ubiratan Aguiar, relator do processo que analisou, em princípio, como superfaturamento, aquisição de encartes e revistas encomendados pela Secretaria de Comunicação (Secom) - entenda-se Presidência da República, à qual está subordinada - com propaganda do governo Lula e críticas à administração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: o material [que se imaginava superfaturado por desconhecimento de seu destino], de fato existia e fora encaminhado - por orientação das agências de publicidade responsáveis pelo trabalho - para o PT que, por dispor de uma logística de distribuição de melhor qualidade que a do governo, foi escolhido para realizar a tarefa.

Como explica Luiz Justiniano de Arantes Fernandes, advogado do ex-ministro da Secom, Luiz Gushiken: "Tal decisão permitiu a mais ampla distribuição do material gráfico. O destino final das revistas e dos encartes era e sempre foi a população, e a esse destino eles chegaram, por intermédio desse canal de distribuição em que se constituiu o Partido dos Trabalhadores."
Tudo bem, tudo certo; nada mais a ver. Nenhuma dúvida.

Vá lá que se tenha levado um ano para constatar o fato; importante é que as autoridades governamentais ou do PT [são quase as mesmas, pode-se dizer] descobriram, por fim, onde se encontrava a verdade [ou "verdade"?]. Só não combinaram, como dizia Garrincha, com o adversário; no caso, o ministro Ubiratan Aguiar.

Lembrar algumas outras questões ligadas ao fato não fará mal a ninguém, suponho. "Senão, vejamos", como dizia o velho professor de Matemática que não tinha qualquer constrangimento em, com aquele grande lápis vermelho, dar 4,3 na prova do aluno que precisava de 4,5 para passar de ano. Mas isso é outro problema. Voltemos às dez dúvidas que assolam este país na questão da distribuição dos encartes e revistas mandados publicar pela Secom:

1 - não foi muito tempo, um ano, para alguém lembrar que o material - quase dois milhões de exemplares, no caso - existia?
2 - acredito na qualidade da logística de distribuição do PT, tudo bem; mas não haveria um outro órgão qualquer do Estado para promover a distribuição? não parece que ficaria menos suspeito?
3 - haveria necessidade de o material contratado criticar o governo do antecessor do presidente Lula da Silva? não lhe parece, assustada leitora, um pouco deselegante?
4 - a Secom alegou que o PT estaria fazendo "um favor ao Estado" ajudando na distribuição; caso o leitor esteja esquecido é bom lembrar que o ministro, à época, era o hoje demitido senhor Gushiken, por força do Escândalo do Mensalão, que teve sua origem nos Correios, instituição encarregada de, além de fazer empréstimos, fazer a entrega de livros, revistas, manuais, bonés e outros materiais [ver observação que se segue];
5 - disseram os resposáveis pela medida [distribuição pelo PT] que o Tesouro estaria economizando; lembro que os Correios mantêm convènio com o Bradesco [banco privado de excelente desempenho, há quem duvide?] para que faça as remessas por Sedex; quem tiver dúvida que experimente; é bom ou máu o desempenho dos Correios, leitora? não me sai da cabeça a imagem daquele senhor - que correu o mundo inteiro, que vergonha! - recebendo uma propina de três mil reais;
6 - o ministro Aguiar lembra em seu parecer que houve, no caso, uma inadmíssivel confusão entre os interesses do governo e os de um partido político a cujos quadros pertence, por acaso, o candidato à reeleição; que acha a leitora?
7 - lembra, ainda o ministro, que, recentemente, o presidente Lula foi condenado a pagar multa por fazer campanha política usando material institucional [da mesma natureza que o "desaparecido" por quase um ano];
8 - qual o verdadeiro papel do ex-ministro Gushiken e das agências publicitárias - Duda Mendonça & Associados [precisa dizer de quem é?] e Matisse, do sr. Paulo de Tarso Santos [amigo do presidente e marqueteiro de suas campanhas fracassadas em 1989 e 1994] -, responsáveis pelo encaminhamento das revistas e encartes para o PT?
9 - justifica-se a preocupação do ministro Marcos Villaça, companheiro de tribunal do ministro Aguiar, em solicitar a este que "abrandasse" seu relatório e de solicitar, ao ver rejeitado seu pedido, que seu voto fosse retardado e somente conhecido após as eleições?
10- José Antonio Dias Toffoli, advogado da Matisse e assessor jurídico da Presidência da República, até julho de 2005, afirma que "desde que fique provado que os partidos são mais eficazes na distribuição de material e que o custo foi menor para o Estado", então a controvérsia é irrelevante e nós, os bobalhôes da República, temos mais é de ficar calados e agradecer a Deus termos gente no governo com o quilate daqueles que o ocupam presentamente.

E está falado.
A seu critério, como sempre, prezados e inteligentes leitor e leitora.