terça-feira, outubro 10, 2006

"SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?"

Depois do debate, domingo, na Rede Band, com o ex-governador Alckmin, o candidato presidente - que, na oportunidade, convocou vários ministros, governadores eleitos pelo PT, assessores dos mais diversos níveis e puxa-sacos em geral para assistir o "confronto" - voltou a colocar, ontem, segunda-feira, 09, sua tropa de choque em ação.

Destaque, nesta vez, para os recém-eleito governador petista da Bahia e o bispo [da Igreja Universal do Reino de Deus] derrotado ao governo do Estado do Rio, e pertencente aos quadros do PRB, partido do empresário vice-presidente da República, outro elemento de destaque na tropa.
Lembrando que "evangélico vota em evangélico" - apesar de malsucedido no estado em que concorreu - o bispo levou até o Alvorada os cantores gospel, proporcionando ao presidente a oportunidade para falar em público no "day after", no mínimo para agradecer a presença dos jovens cantores; foi o mote para o senhor Da Silva tentar passar a impressão de que saíra vitorioso do embate, o que já fora tentado na parte da manhã em entrevista coletiva concedida pelo governador eleito da Bahia que - da mesma forma que o ex-presidente, no mesmo horário - não poupou palavras desabonadoras ao que teria sido o comportamento do candidato do PSDB, classificando-o como arrogante, apelador, desesperado e outros adjetivos menos votados.

Deu-se, então, caríssima leitora, a melódia, o que não se poderia esperar partir de um presidente, quaisquer que fossem suas mágoas com a dureza de seu opositor no debate.
Transcrevo parte do que foi dito por S.Excia. e deixo a seu critério, prudente leitora, avaliar as expressões do sr.Da Silva:


"Quem viu o debate ontem percebeu que o cidadão (Alckmin) é um samba de uma nota só. Pensei que não estava na frente de um candidato, que estava na frente de um delegado de porta de cadeia.(*)"

"Ela (a elite brasileira) foi implacável com Juscelino Kubitschek, com Getúlio Vargas, com João Goulart. Ela diz: não se meta a fazer coisa para os pobres que você vai pagar o preço [...] Eles é que não querem que os pobres tenham acesso a uma vida melhor."

"Confesso a vocês que foi triste para mim e para minha mulher [...] O povo não quer ver candidato xingando o outro. O povo quer saber o seguinte: o que é que vai fazer pra melhorar a minha vida."

"Aquele grupo de interesses arrogantes, pedantes, daquelas pessoas que falam com o nariz em pé, como se tivessem mais autoridade do que o restante do planeta."

"Eu talvez seja o único que governou esse país nos últimos anos que pode falar em corrupção."

"É fácil não sair corrupção no jornal, é só engavetá-las, é só jogar debaixo do tapete, debaixo do sofá."

"É a velha história da sanfona quebrada que só faz o mesmo som, que eles estão fazendo durante a campanha [...] Marisa (Letícia, primeira-dama) e eu somos calejados, porque nesses 32 anos de casado apanhamos pelo menos 29."

"Eles estão irritados porque perderam na Bahia, vão perder em Pernambuco e vão ficar mais irritados ainda [...] Nós ensinamos o povo a subir no palanque."

"Ontem foi um dos dias mais tristes na política que vivi" [e, comparando Alckmin, negativamente, a outros adversários que] "tinham um nível político assimilável" [tais como: Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Mário Covas, José Serra, Anthony Garotinho, Janio Quadros e Fernando Collor de Mello], acusou seu opositor de usar "bravatas e frases de efeito" e de representar o "projeto político que manda no Brasil desde Cabral."


Insiste o candidato presidente em tentar dividir o Brasil em duas partes bem distintas: uma dos ricos e outra dos pobres; uma dos que comem e outra dos que não têm dinheiro para comer; uma dos corruptos e outra dos dignos e decentes; uma da "zelite" e outra de gente como ele, de onde ele nasceu e se criou [embora, por força de ofício, hoje, não viva mais lá].

Faz-me lembrar o senhor Da Silva a história, que corria nos tempos de colégio - e que conto agora na versão século XXI - de um guarda de trânsito [com todo o respeito que por eles tenho; é piada de um Brasil de outros tempos] que parou a viatura de um cidadão pelo cometimento de infração grave. Cara amarrada, o motorista sai do carrro e faz a clássica pergunta: "Sabe com quem está falando? Eu sou deputado, seu guardinha." Tranqüilo, o guarda saca o caderno de multas, desconhecendo o ofendido interlocutor, anota o número da placa do carro de Sua Excelência, dá um sorriso maroto para a autoridade e retruca: "Bem feito, senhor, quem mandou não estudar?"

(*) Apenas um lapso de memória.