terça-feira, dezembro 05, 2006

ATÉ DA SILVA FICOU ESCANDALIZADO. OU DISSE QUE FICOU...

De quando em vez, João, meu neto mais novo, me sai com uma novidade. Para espanto deste velhote, perguntou-me o que era teto. Preocupado com o fato de um menino de oito anos, bem posicionado na escola, desconhecer o que era um teto, dei a resposta mais óbvia: "Teto é a parte mais alta de uma casa vista de dentro da casa; mas há quem chame de teto, também, o telhado."
Com um sorrisinho moleque o mais novo da família retrucou: "Não vô, isso eu sei. Eu quero saber que "teto" é esse que andam falando na televisão e que alguns advogados, sei lá, querem ficar acima dele."

Tremi na base. Como dizer a meu neto, que ainda não chegou aos nove anos de idade, da pretensão de membros do Poder Judiciário, que muitos consideram contrária à lei - contra, inclusive, a posição do Procurador-Geral da República -, que a eles todos, homens e mulheres da Justiça, cabe defenfer? Só havia um caminho para conduzí-lo, de forma não dolorosa, em direção a uma [embora triste] explicação: o Aurélio.

Veja, interessado leitor, o que nele está registrado com relação ao vocábulo "teto":

teto1 [Var. de tecto, do lat. tectu.] S. m.
1. A face superior interna duma casa ou dum aposento.
2. P. ext. Telhado (1)
3. P. ext. Habitação, abrigo
4. Aer. Acima da superfície da terra ou da água, a altura da camada mais baixa de nuvens ou de fenômenos atmosféricos obscurecedores da visão do piloto (nevoeiro, névoa seca, chuva, etc.)
5. Fig. O limite máximo; o máximo

Não levou mais que alguns segundos para João apontar, com o dedinho indicador da mão esquerda [ele é canhoto], o item 5 das diversas definições dadas por Mestre Aurélio. "É essa aqui que eu queria saber, vô; é o máximo. Acho que agora entendi: tem uns advogados por aí querendo ganhar mais do que o máximo que eles podem ganhar. Não é isso? Isso pode?"

Tente o leitor explicar a seu neto ou a uma criança qualquer, oito anos de idade, que o máximo, que o limite máximo, não é o máximo nem o limite. Explique-lhes que há pessoas importantes - que, em tese, só ganham menos que nossos heróicos jogadores de futebol -, preparadas para garantir a lei, que fingem não entender muito bem o que diz ela e, usando artifícios jurídicos que só eles conhecem - digo-o por analfabeto das leis que sou - estão querendo ganhar mais do que a lei permite.

Não tenho competência para justificar coisas desse gênero ao João, confesso, que ouviu o galo cantar sem saber muito bem onde. Não tenho também, competência [ou qualquer outra coisa que evito definir da forma que gostaria] para acreditar como verdadeira a informação passada pelo editor do site Videversus - o que, aliás, se pode ver registrado na imprensa, de maneira geral - que abaixo, transcrevo:

Os integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público aprovaram nesta segunda-feira a proposta de resolução que equipara o teto salarial dos integrantes dos Ministérios Públicos Estaduais, hoje em R$ 22.111,00, para o valor máximo pago aos ministros do Supremo Tribunal Federal, de R$ 24.500,00. Assim, o Conselho Nacional do Ministério Público acabou com o subteto que dividia os valores máximos pagos no Ministério Público Estadual dos vencimentos do Ministério Público Federal. O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, já afirmou que vai entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade, no Supremo Tribunal Federal, contra a resolução. Para o procurador-geral, a regra infringe artigo da Constituição que estabelece um teto para os funcionários dos Ministérios Públicos Estaduais equivalente a 90,25% do teto dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Na semana passada, o presidente Lula havia vetado a criação do jetom dos conselheiros do Conselho Nacional do Ministério Público. O salário dos procuradores que integram o Conselho subiria de R$ 23.275,00 para R$ 28.861,00 e dessa maneira ultrapassaria o teto do funcionalismo público federal, que é de R$ 24,5 mil. Além do veto, Lula também havia suspendido a criação de 58 cargos de confiança do Conselho. "


Pior é que é verdade o que diz o site. Mais: até Da Silva considerou a pretensão dos integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público - acredite leitora - um escândalo.