terça-feira, setembro 15, 2009

A PRAÇA DA SOBERANIA E OS CARTÕES DE CRÉDITO

Acabo de falar com a Central de Informações de conhecido banco da praça. Motivo: saber se meu pedido de cartão de crédito havia sido aprovado, após demorado preenchimento de fichas pela Internet, exigência feita pelo banco para liberar, sem pagamento de mensalidade, dito cartão [esta é, ao menos, a promoção que faz chegar o banco ao conhecimento do público]. Cabe esclarecer que sou detentor, há anos, de três cartões que pouco uso [daí a ideia de transformá-los em apenas um, sem custos], adquiridos no banco associado ao que recorri ainda há pouco.
Sintetizo para não tomar o tempo do assinante: foi-me negado o cartão. Justifica-se a operadora que me atendeu: meu perfil não foi aceito pelo programa maquiavélico que avalia as solicitações. Questionei se o fato de morar durante mais de quarenta anos em apartamento próprio no Leblon, ter grau superior e não apresentar qualquer débito junto às instituições de amparo aos lojistas seria motivo forte para não enquadrar meu perfil ao programa de liberação de cartões e fui informado que não seria este o motivo. Mais: a jovem atendente não tinha como explicar a negativa.
Entenda a prezada leitora que, passado dos setenta, não é de bom alvitre [como diziam os antigos] perder meu tempo e paciência com "ofensa tão leve" à minha dignidade e, sobretudo, à minha saúde.

Rebusquei na memória algum fato que tivesse ligação mínima com o acontecido. E lá no fundo, bem lá no fundo do baú, veio-me à mente o acontecido com o Mestre Oscar Niemayer e que contei - em 5 de fevereiro deste 2009 - na postagem a que dei o título de Praça da Soberania: Um Sonho Sonhado. Transcrevo-a a seguir.

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"A Viagem do Elefante", último livro do Nobel de Literatura, o português José Saramago, conta um fato verídico, ocorrido em 1551, quando o rei de Portugal à época, dom João III, resolveu oferecer um elefante indiano ao arquiduque da Áustria.
A comitiva de homens e bois que acompanhou o animal de Lisboa a Viena, provocou festa e espanto em cada vila e cidade por onde passou. Foi um verdadeiro sucesso o evento [como diriam os marqueteiros de hoje]. Motivo: pouca gente na Europa, naqueles dias, tinha ideia do que fosse um elefante. E a caravana chegou a Viena.

O mesmo destino - sucesso na empreitada - não alcançou um dos últimos sonhos do centenário arquiteto Oscar Niemayer: o projeto do monumento à soberania, com obelisco e Memorial dos Presidentes.

Justificou-se o governador do DF, José Roberto Arruda: a falta de dinheiro não torna possível dar prosseguimento ao projeto.

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Convicto de que seu sonho merece ser realizado, mas acatando a falta de dinheiro alegada pelo governador para não prosseguir com o projeto, Niemeyer reforça a importância da Praça da Soberania e comunica - a quem interessar possa - que vai se recolher às suas leituras [sua leitura atual, por ironia, é A Viagem do Elefante, de Saramago] e aulas de cosmologia [seu aprendizado da pequenez humana no universo infinito, conforme faz questão de registrar]

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Ficou triste o velho mestre. Transcrevemos, abaixo, alguns trechos da mensagem que deixa revelando a importância que dá ao projeto que tanto acalentou nos últimos tempos:
"...Dois ou três dias atrás era com entusiasmo que eu acompanhava, nos jornais, as discussões surgidas em torno da possibilidade de se inserir em Brasília a nova praça que projetei. Uma praça monumental, tão bonita que, acreditávamos, daria ao Plano Piloto a importância desejada. Sabíamos que essa obra em nada prejudicaria o Plano Piloto, que, ao contrário, garantiria a esta capital o estacionamento para 3.000 carros que faltava. E parecia-nos ver a praça já construída, tendo, de um lado, o prédio baixo e sinuoso correspondente ao Memorial dos Presidentes, e, no centro, um grande triângulo destinado a uma exposição permanente sobre o progresso de nosso país — triângulo que, pouco a pouco, se ia transformando no monumento principal da cidade [...] li nos jornais que o governador José Roberto Arruda, por falta de verba e de tempo, reconhecia ser agora impossível realizar a construção da praça que tanto desejava. Com pesar nos reunimos, eu e meus companheiros de Brasília, para avaliar o que se passava. E chegamos à conclusão de que o governador do Distrito Federal não teria, como nos comunicou, condições para executar aquele projeto que tanto o empolgava [...] um ponto final a essa celeuma que tanto nos ocupara. E compreendi que esta noite, mais tranquilo, voltaria à leitura de A viagem do elefante, que Saramago, esse grande escritor português, tão gentilmente me enviou. E amanhã, terça-feira [ontem], vou assistir com os meus amigos às aulas de cosmologia e filosofia que há cinco anos o físico Luiz Alberto Oliveira ministra para nós, fazendo-nos sentir que o que mais importa não são as tarefas que às vezes com sucesso realizamos, mas sim a luta por um mundo mais justo e solidário que nos ocupa, e que um dia, mais próximo do que imaginamos, se tornará realidade."

Em tempo: 4066 internautas foram consultados pelo Correio Braziliense - entre os dias 25 e 28 de janeiro último - sobre a proposta do arquiteto Oscar Niemayer de criar a Praça da Soberania [com obelisco e Memorial dos Presidentes] na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Resultado: 75,87% dos pesquisados rejeitaram a ideia.

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Perdeu Mestre Oscar sua Praça da Soberania. Deixo eu de fazer jús a um cartão de crédito por motivos que não consigo entender.

Dúvida que me vai deixar insone e temeroso, estou quase certo: qual seria o resultado de enquete que procurasse saber junto ao povo qual o percentual de apoio aos mecanismos de avaliação do banco? 75,87% dos pesquisados estariam a favor do banco ou a meu favor?