quinta-feira, maio 18, 2006

FALTAM SÓ 17 OU JÁ CHEGAMOS LÁ?

Parlamentar petista, tempos atrás - com passagem discreta, bom que se diga, pelo Congresso -, definiu seus pares como "300 picaretas". Soou como se estivéssemos vivendo na pior das legislaturas que o país houvera passado. Não havia como negar que, partindo de seu seio, a denúncia contra a Câmara dos Deputados tinha peso incontestável. Vivia-se o pior dos mundos; jamais se imaginara coisa igual. Ao menos nas cabeças dos aliados do preclaro denunciante.
Passou o tempo, "o senhor da verdade" - já o dissera outro também ilustre representante deste povo sofrido da Terra de Santa Cruz -, e eis que nos defrontamos [em pleno século XXI, pasme sofrida leitora] com parlamentares que se conseguem destacar pela incompetência para legislar e pela ímpar aptidão para levar à desmoralização suas tarefas muito superiores à aptidão e incompetência dos antigos membros daquela pouco saudosa "casa dos 300 picaretas".
Verdade que na atual restam, ainda, lídimos representantes daquela tão malfalada legislatura. Muitos, até, lembrados em recente relatório do Exmo.Sr.Procurador-Geral da República - ANTÔNIO FERNANDO BARROS E SILVA DE SOUZA - e que se destacaram como leais companheiros de primeira hora na carreira, que veio a se tornar brilhante, daquele deputado que identificou e denunciou a picaretagem que grassava àquela época. Faltou dar nomes aos bois; mas o procurador os deu agora, passado tanto tempo.
Perguntará o atento leitor, qual marido enganado nas peças magistrais de Nelson Rodrigues à procura dos parceiros indesejados que conspurcaram seu leito conjugal com a adúltera: "E os outros? Cadê os outros?"
Respondo: estão nos gabinetes de luxo de Brasília; nas mansões e apartamentos funcionais; nos escritórios dos "consultores" da saúde alheia que vicejam país afora; nas bancadas das legendas de aluguel que recebem quem quer que se disponha a pagar-lhes a taxa de inscrição partidária; no chamado baixo tanto quanto no alto clero; na cadeira ao lado do deputado e do senador nos quais você votou; nas comissões de orçamento e de saúde definindo a "melhor" maneira para melhorar a situação do país e - quem sabe? - deles, em particular; estão nas novelas das seis, das sete e das oito da Rede Globo, com rápidas incursãoes pelos programas do Jô e da Ana Maria Braga.

Sabe você, leitora, como anda o Brasil? Tem alguma dúvida a respeito? Então leia os jornais impressos e virtuais, por pior que sejam, e as revistas semanais; veja as notícias dos telejornais na televisão e na Internet [se a ela tiver acesso e se a Virtua estiver passando por um momento sem "problemas técnicos"]; converse com seus parentes, pais, filhos, irmãos, mulher e marido; pergunte a seus amigos, professores, vizinhos; fale com o barbeiro, converse com o garçom do boteco que você freqüenta, com o caixa do banco e do supermercado, com o pedreiro que está consertando a parede de sua casa; puxe conversa com aquela senhora gorda sentada a seu lado no ônibus, no trem, no metrô; com o estudante do ginásio estadual [em greve] que joga pelada na praia, com o médico e com o enfermeiro que saem do plantão no quase inútil hospital monumental de sua cidade.

Equipada, amável leitora, com as informações sobre nossa maravilhosa terra, parta para o confronto legal e possível: xingue, reclame e faça reza braba contra esses seqüestradores da boa-fé do manso e infeliz povo brasileiro e, sobretudo, não vote neles e peça a quem encontrar pelas ruas que também não vote.
Quanto aos nomes não é difícil: parte está no relatório do Procurador-Geral e o restante você encontra nos jornais de ontem, hoje e, por certo, de amanhã e depois. Tenho a impressão de que há nomes em duplicata e já passamos, até, dos trezentos.

Nós, cavalões, cansamos de pastar. Eu e você, pelo menos.