sexta-feira, maio 05, 2006

O RETROCESSO DE NOSSA POLÍTICA EXTERNA (1)

Meu amigo Malburg [Fernando Malburg da Silveira] - desde os tempos de colégio - e eu tivemos nosso último contato pessoal ao findar a década de 50. Daquela época até hoje tive dele uma e outra notícia que o tempo se encarregou de colocar no baú do esquecimento. Eis que hoje, sexta-feira, 5, recebo de amigo comum a matéria abaixo que, com sua autorização [lógico: procurei-o tão logo terminei a leitura do documento], transcrevo para o deleite de minha amável leitora solitária; pessoa inteligente que é ela [como você, leitor amigo], saberá beber nesta fonte - como eu bebi - tudo que se pode dela tirar.
Boa leitura.

"O episódio da nacionalização das reservas de hidrocarbonetos pelo governo boliviano recém-empossado mostra em verdadeira grandeza o fracasso da Política Externa do governo petista de Lula da Silva. Uma vez mais, um misto de soberba, ingenuidade e despreparo deu margem a que o líder cocaleiro Evo Morales, que parecia um companheiro muy amigo, colocasse as cartas na mesa, como bem havia alertado que faria, durante sua campanha eleitoral.Esse acachapante episódio não deve, porém, ser observado isoladamente. Na verdade, soma-se a uma série de outros, todos levando ao esvaziamento do Mercosul (que o governo tinha em mente fortalecer para continuar sua estratégia de oposição à ALCA, defendida pelos EUA) e à progressiva desintegração da América Latina, principalmente a do Sul, entregue a lideranças políticas nacionalistas e populistas, ideologicamente e economicamente ultrapassadas, múmias do marxismo leninismo mais empedernido (mas hábeis o bastante para iludir a massa ignara com suas pirotecnias irresponsáveis). Essas lideranças entendem, equivocadamente, que afinidades ideológicas e relações pessoais servem de âncora para acordos comerciais firmes. Nada mais falso: credibilidade política e interesses comerciais concretos das partes é que sedimentam acordos duráveis.O sonho lulista de liderança da América do Sul (quiçá da América Latina) não resistiu a quase quatro anos de inépcia governamental e ao desmonte das melhores tradições do Itamaraty. O Barão do Rio Branco deve estar dando corcovas na tumba, sem poder reagir ao afastamento de nossa diplomacia das tradições do pragmatismo. No caso presente, a mídia noticiou que Morales e Chávez foram a Cuba ouvir Fidel Castro, antes de agir; e que teria partido de Fidel (após sugestão de Chávez) a proposição para que, diante da incapacidade técnica da estatal boliviana YPFB para assumir a operação das instalações a serem tungadas, a PDVSA da Venezuela assumi-la, o que bem demonstra como está sendo exercida a liderança continental. Além de se dizer traído, em escândalos recentes, por correligionários de primeira grandeza de seu partido, o PT, parece que Lula tem agora motivos para sentir-se traído também por seus hermanos hispânicos.O Brasil, na verdade, vai cada vez mais a reboque de Hugo Chávez, de Kirchner e das inspirações que Fidel, o velho guerrilheiro cubano, oferece aos seus discípulos sul-americanos. Enquanto entre arroubos, bravatas e não poucas gafes, damos corda à gritaria anti-americanista, anti-imperialista, anti-capitalista e outras baboseiras, os países que realmente não querem perder a oportunidade de usar os bons ventos (que há algum tempo vêm soprando) da conjuntura econômica internacional para crescer, cuidam de seus interesses com pertinácia e competência, inclusive negociando com os EUA e a União Européia, sem fazer estardalhaço contra o liberalismo econômico, a globalização e a supremacia das regras de mercado. Assim estão procedendo China e Índia, além da Austrália, a Irlanda e outros que vêm alcançando crescimento notável a cada ano. Enquanto isso, o Brasil cresce a níveis pífios, comparáveis com o paupérrimo Haiti..."
(CONTINUA)