sexta-feira, julho 28, 2006

NÃO BASTA TER UM BOM PASSADO. É PRECISO OLHAR PARA O FUTURO

Amigo meu de competência intelectual induscutível, ex-empresário bem sucedido e hoje exercendo funções de diretoria em firma multinacional no Norte do país, contestou-me recentemente quando sugeri que lesse artigo escrito pelo jornalista e filósofo Olavo de Carvalho.
Disse ele que, com todo o respeito, não atenderia minha sugestão. Seu argumento para recusar-se a ler o texto que indiquei foi curto e grosso: "Esse [referindo-se a Olavo de Carvalho] eu já conheço, meu caro. Não é preciso ler nem ouvir o que este entreguista escreve ou diz; ou você ainda não entendeu que a filosofia dele é aquela de que aquilo que interessa à América do Norte é o que deve interessar ao Brasil? Nunca li nem vou ler qualquer coisa que tenha sido ou venha a ser por ele produzida. Não vou ler e ponto final."
Não o contestei e dei a conversa por encerrada.

Dele, um homem que, tenho a certeza, é inteligente e estudioso [juntos percorremos os bancos escolares desde os dez, onze anos de idade], tive tal resposta. Não a terei, certamente, de outros caros e inteligentes leitores que não atingiram as culminâncias intelectuais e profissionais de meu amigo e que, como você - gentil assinante - não se deixam levar pelo "não li e não gostei" dos que se consideram [como certos jogadores de futebol que estiveram recentemente disputando a Copa do Mundo na Alemanha] não apenas filhos do Homem, mas o Homem propriamente dito.


Encontrei ontem - passado pouco mais de um ano de nossa conversa - outra matéria cuja leitura sugeriria a meu amigo mas não o faço por motivos óbvios; transcrevo-a abaixo para seu conhecimento, leitora. Diga-me, depois, se meu amigo não teria perdido boa oportunidade de aprender alguma coisa.



" Em plena guerra assimétrica - Olavo de Carvalho


Diário do Comércio, 24 de julho de 2006

Quando o sr. Hugo Chávez proclama que sua estratégia contra os EUA é a da “guerra assimétrica”, já não há como negar que esse conceito é o instrumento essencial para a descrição e compreensão do estado de coisas na América Latina. Se nossos comentaristas internacionais, analistas estratégicos, politólogos e tutti quanti continuam a usá-lo com parcimônia ou a abster-se por completo de usá-lo, não é só por preguiça mental: é porque um dos elementos fundamentais da assimetria é a desigual iluminação do quadro. Esses cavalheiros jamais desejariam ver o seu querido mentor bolivariano mostrado à mesma luz implacável e crua com que seus inimigos são exibidos e dissecados diariamente na mídia. Conceder a um dos lados o direito à penumbra protetora e obrigar o outro a um contínuo strip-tease ante a curiosidade sádica dos holofotes não é descrever nem analisar a guerra assimétrica: é praticá-la. Jornalistas, professores e similares, os “formadores de opinião” ou “intelectuais”, no sentido calculadamente elástico que Antonio Gramsci dá ao termo, são a vanguarda da revolução. Sua função não consiste em mostrar o mundo como ele é, mas transformá-lo naquilo que ele não é. Deformar propositadamente o quadro, portanto, é seu dever profissional número um.


Mas a palavra mesma “deformação” é um tanto enganosa. Deformar por meio do fluxo de informações uma realidade preexistente é uma coisa; outra bem diversa é criar praticamente do nada uma nova realidade constituída de puro fluxo de informações. Mentir em situações de guerra, para favorecer um dos lados, é tão antigo quanto a própria guerra. Mas mesmo o formidável desenvolvimento da técnica da desinformação ao longo de duas guerras mundiais e inumeráveis revoluções do século XX não dá uma imagem adequada do que hoje se passa. Em todos esses casos, os “formadores de opinião” desempenhavam um papel auxiliar: a parte substantiva dos conflitos desenrolava-se nos campos de batalha. Os protagonistas da narrativa bélica eram os militares, os guerrilheiros, os terroristas, os partiggiani. Jornalistas e tagarelas em geral formavam apenas o coro. Nas últimas décadas, as proporções inverteram-se. A integração mundial das comunicações e a conseqüente reorganização da militância revolucionária em “redes” de extensão planetária permitiram reduzir ao mínimo a função bélica das armas e ampliar ao máximo a da guerra de informações. O princípio subjacente a essa mudança é simples e baseia-se na regra clássica da arte militar que mede a eficácia da ação armada segundo a relação custo-benefício que ela guarda com os resultados políticos visados. Quanto mais ampla a repercussão política que se pode obter com um esforço militar reduzido, tanto melhor. Nesse sentido, batalhas inteiras da II Guerra Mundial, com centenas de milhares de mortos, foram politicamente menos relevantes do que alguns ataques terroristas comparativamente modestos realizados nas últimas décadas, pela simples razão de que neste caso havia meios de alcançar repercussão jornalística mais vasta e mais imediata, determinando decisões de governo que em outras épocas necessitariam de um estímulo sangrento muito mais eloqüente. Exemplos característicos foram a guerrilha mexicana de Chiapas, militarmente irrisória, que graças ao apoio instantâneo da mídia internacional conseguia transformar em vitória política cada nova derrota que sofria em combate, e o atentado à estação férrea de Madri, que do dia para a noite fez a Espanha mudar de lado na guerra contra o terrorismo. Napoleão, Rommel, Zhukov ou MacArthur jamais sonharam em obter resultados tão espetaculares com investimentos bélicos tão minguados..."


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