quinta-feira, setembro 14, 2006

CONTINUAMOS AGUARDANDO, NÓS, OS CAVALÕES DA REPÚBLICA - PARA O QUE ELES, OS ÉTICOS, CHAMAVAM DE MARACUTAIA - POR UMA SOLUÇÃO DECENTE

Que me desculpem uma vez mais, o generoso leitor e a caridosa leitora: mas vejo-me obrigado a voltar à questão das cartilhas, panfletos ou revistas [seja lá o nome que se dê aos bois] a que já me referi, estarrecido, duas ou três vezes, apenas nesta semana.

Pois não é que, quarta-feira última, 12, o TCU-Tribunal de Contas da União aprovou - por maioria absoluta - o parecer do ministro Ubiratan Aguiar, relator do processo, que decide pela abertura de investigação formal para apuração da questão? Terão quinze dias para defesa os citados no parecer; não convencido aquele tribunal das justificativas apresentadas será exigida a devolução dos recursos que se alega pagos às agências de publicidade responsáveis pela produção das publicações.
Ressaltam, no relatório do ministro, fortes indícios da subtração [fraudulenta] de R$ 11,6 milhões da Secom. Cita ainda, o relatório de Aguiar, entre outros envolvidos: Luiz Gushiken [ex-ministro da Secom e envolvido no processo do Mensalão como um dos 40 quadrilheiros], Marcos Flora [ex-secretário adjunto da Secom à época do contrato com as agências de publicadade] e a agência Duda Mendonça & Associados, responsável pela edição das cartilhas.

Informações passadas à imprensa, hoje, pelo presidente do PT, ex-ministro Ricardo Berzoini, indicam que, do total de 2 milhões de revistas que se disse, inicialmente, haverem sido encaminhadas aos diretórios municipais de seu partido para distribuição, menos de 1 milhão tomou, realmente tal destino. Aguarda ele informações de outras instâncias republicanas, como costuma e gosta de dizer, para esclarecer a "saia justa" - expressão, nos últimos tempos, muito em voga no vocabulário de meus netos - em que se encontra a agremiação que dirige para esclarecer o destino que foi dado ao mais de um milhão restante.

Gushiken, com a empáfia que lhe é característica desde seus tempos de líder sindical, em nota divulgada pela imprensa, diz estranhar a divulgação do relatório do TCU faltando poucos dias para as eleições [pacote de bondades a pouco menos de vinte dias antes do pleito não é nada de se estranhar, ora pois...?]. Diz ele dentro de suas muito bem cortadas calças sustentadas por aqueles elegantes suspensórios de "griffe":
"Estranho que somente agora, às vésperas das eleições, venha a se apontar suposto conteúdo não institucional, quando à época - quase dois anos atrás - todos os deputados, senadores, governadores, prefeitos e outras autoridades receberam o referido material. Naquela ocasião, nenhum questionamento foi levantado, pois, de fato, o material tem cunho estritamente institucional e não partidário. Certamente, alguns setores políticos prefeririam que o governo federal não prestasse contas e nem divulgasse suas realizações."

Tarso Genro, ministro das Relações Institucionais, cumpre seu papel de mostrar que o governo está longe de fatos e acontecimentos da natureza do desaparecimento das cartilhas, por exemplo; sobretudo quando os técnicos do TCU estão muito próximos da convicção de que houve, de fato, superfaturamento de preços; ou seja, é quase certo [para os técnicos] que tenha sido feito o pagamento de um trabalho que não foi realizado em sua totalidade. E se esforça [Tarso] para dar outras cores ao fato que desabona seu partido, como se a oposição de hoje fosse a responsável pelo que os antigos opsicionistas chamavam de "maracutaia"; diz ele:
"Essa visão que está sendo colocada por alguns líderes tucanos e pefelistas de restabelecer qualquer diálogo a respeito de um impeachment é golpista, é atitude desqualificada de quem está perdendo as eleições [...] Como eles acham que já perderam a eleição, estão profundamente divididos, começam a articular um ranço udenista, golpista, desqualificado, que se volta contra a soberania popular que vai ser exercida nas urnas [...] Eles que percam a esperança de que o governo vá aceitar esse tipo de provocação ou que isso vá ter eco na população, no eleitorado brasileiro, que é maduro e suficientemente politizado e sabe escolher seus governantes".

Quem sabe tudo não passa de acontecimento que, por circunstências fortuitas, tenha se tornado público somente agora, tão próximo às eleições? Mas é bom não esquecer do esforço que fizeram - e continuam a fazer - PT e Presidência da República para que tudo se desfaça como as espumas das ondas que se desmancham na areia.

Aguardemos as explicações dos envolvidos e os desdobramentos de mais esta "saia justa" em que o governo se envolveu.