terça-feira, setembro 05, 2006

SENHOR PRESIDENTE, CADA VEZ MAIS ME CONVENÇO DE QUE ESTUDAR DÓI MENOS QUE INJEÇÃO. E O SENHOR, ACHA O QUÊ?



Falava-se, em roda de senhores, a maioria beirando os setenta [como eu], sobre o livro recém lançado pela editora Record - Viagens com o Presidente - de autoria dos repórteres Eduardo Scolese, da Folha de S. Paulo, e Leonencio Nossa, d'O Estado de S. Paulo. Ria-se muito da falta de elegância de S.Excia. com autoridades de outros países; que mais se haveria de fazer diante de tanta grosseria? Chorar, para senhores como aqueles que se reuniam em boteco elegante do Leblon - o menos machucado pela vida portador de uma neuropatia diabética - seria agravar ainda mais as dores cotidianas com que, Deus sabe, o não-governo do ex-metalúrgico brinda os aposentados da vida.
Lembrou um deles - assinante, creiam, deste humilde blog; temos outro leitor além de você, leitora - de postagem antiga em que tratamos do desprazer pela leitura que acompanha o presidente, revelado nas poucas entrevistas que concede e em que é interpelado [acredito que com certa dose de maldade do entrevistador] sobre o assunto livro. Decidi, pois, a pedido de um dos participantes do grupo, o mais velho de nós - noventa e um anos pesando-lhe na carcaça ainda forte e bem-humorada - reeditar, ao menos em parte, a matéria.

Desculpem, pois, quem já a tenha lido, por meu desplante em repetí-la.

Justifico-me pela oportunidade da lembrança: as eleições que se aproximam. Quem sabe algum eleitor que esteja pensando na reeleição do dito cujo leia as maltraçadas abaixo e opte por outro candidato?


"... o presidente Lula da Silva utilizou a parte final do programa nacional gratuito de televisão de seu partido para dar o fecho de ouro no tema desenvolvido - aliás muito bem - pelo PT: educação. Deixou no ar, na parte que lhe coube naquele horário, a jóia abaixo, na certeza de que vive em um país de apedeutas e desmemoriados como ele: [...]

' Eu estudei menos do que gostaria... não pude cursar a universidade.' [...]

Lembro, para ilustrar o que digo, da época em que preparava a TV Cultura de São Paulo - estávamos no início deste ano eleitoral - uma trilogia que documentava as melhores entrevistas dos 18 anos de existência do programa Roda Viva. Marcou-se encontro do presidente Lula no Palácio do Planalto com a equipe daquela emissora para gravação do programa que foi ao ar, se não me engana a idade, no mês de janeiro. Paulo Markun, jornalista âncora , gentilmente alertou Sua Excelência de que, no encerrameto do programa, passaria às suas mãos os três volumes que compunham o documento, relevando - para evitar possível gafe do homenageado - que apenas o primeiro deles estava concluído; os outros dois tinham, apenas, as capas; as páginas estavam em branco [...]

Pois bem: Lula da Silva devolveu a Markun o volume já pronto, pôs-se a folhear os outros dois em branco e, com indescritível ar de felicidade, brindou seu interlocutor com o seguinte comentário:'Isso é que é livro bom ... A gente nem precisa ler.' [...]

Foi um constrangimento só. Todos os presentes tinham conhecimento da aversão do presidente pela leitura; mas com prova dos nove e prova real não podiam nem imaginar.
Dizer que o marido de dona Marisa Letícia faltou com a verdade no programa de seu partido na última quinta-feira é falhar com o respeito que se deve ao presidente. Mas, em respeito aos milhões de crianças pobres que sairam da mesma região de onde veio, filhos de famílias tão ou mais carentes que a sua e que venceram mil e tantas dificuldades para conquistar os conhecimentos que fizeram deles homens dignos, produtivos e honrados, caberia ao presidente, no mínimo, silenciar sobre a questão.
Seguir o caminho do companheiro de tantas batalhas - o deputado Vicentinho - formado em Direito depois dos quarenta, não faria de Lula um exemplo para esta parcela de povo humilde que, de fato, encontra tantas dificuldades para estudar e progredir na vida?
Deixo o julgamento com você, perseverante e estudiosa leitora. "

Estou cada vez mais convicto de que estudar não dói. Quem quiser que me acompanhe.