domingo, outubro 15, 2006

TUDO TEM SEU LADO BOM: ATÉ DESPRIVATIZAR

Vieram-me à lembrança neste domingo ensolarado de primavera [com ares de verão] que hoje vivemos, neste final da zona sul do Rio - nosso bem amado Leblon do Manoel Carlos das novelas da televisão -, histórias que ouvi contar [e de outras a que assisti pessoalmente] de grande amigo de inesquecível amigo meu - funcionário aposentado do Banco do Brasil, que conheci à época em que morei nas Alagoas -, e a quem devo favores imensos. Seu destino, hoje, desconheço, por força dos desencontros desta vida [ah! Vinicius...]

Era conhecido, seu amigo, como Meu bem [maneira gentil que com que tratava quem quer que fosse que se lhe apresentasse: homens, mulheres, velhos, crianças, gatos, cachorros e passarinhos ]. Imagino-o muito parecido - até fisicamente, não tenho a menor dúvida; pessoas como eles costumam ter muitas semelhanças físicas - com o Mingau, personagem descrito na matéria publicada neste final de semana [Mingau e os telefones] - no site Opinião Livre, de Diego Casagrande - assinada por Alcebíades Crawford.

Tal como o personagem gaúcho, o alagoano Meu bem trabalhava em empresa estatal; da mesma forma que o outro não era lá muito chegado à beleza física; mas ninguém poderia dizê-los pessoas menos delicadas e atenciosas com seus circunstantes eventuais, entendidos aí, amigos e, creiam-me, até inimigos.

Permita-me repassar, curiosa leitora, pequenos trechos da história narrada por Crawford, escriba que não conheço mas que sei feliz por ter vivido amizade como a de Mingau:


"... Sua aparência era entre o “graças a Deus e o mais ou menos”, o sorriso artificial era duro de aturar, por isso mesmo era difícil entender como sempre tinha uma mulher diferente a seu lado, embora elas também não fossem grande coisa... Sobre isso comentava: “as menos bonitas são mais carinhosas”.

Dizia que seu segredo era simples: “Meu nego, não tem mulher que não queira ter um telefone. Quando elas dizem que não têm, eu faço cara de espanto, e digo: “Mas como? Deixa comigo, eu trabalho na Companhia
[nada mais nada menos que a antiga CRT, companhia telefônica estatal do Rio Grande do Sul; registro meu]”. E a partir daí, meu nego, o jogo tá ganho..."

[...] Recentemente me contaram que ele teria morrido. Hoje, com um “crachá da Companhia”, não iria mais conseguir conquistar ninguém e sua lábia teria de ser outra. Além das noivinhas do Mingau, quantas e quantas pessoas deixaram de ter seus telefones instalados por conta de uma estatal ineficiente..."

[...] Vendo a propaganda eleitoral, nem parece que o Mingau morreu, surge uma saudade surda da estatal ineficiente que deixou todos nós sem telefone, que de tão raro era até incluído na declaração de renda. Dá vontade que toquem todos os atuais celulares e telefones ao mesmo tempo, para despertar os que dormem esse sono da estupidez..."

[...] Então o Mingauzinho vai reaparecer, com um crachá da Companhia, os olhos umedecidos pela má fé e o conhaque vagabundo, dirigindo-se para alguma mulher de graça perdida, porém com o discurso desonesto já atualizado, dizendo apenas: “E aí, beleza ?”


Meu bem
e Mingau são duas vidas num só espirito que Deus colocou na terra ao mesmo tempo, e em lugares diferentes, para confortar as mal-amadas da vida e atender aos precisados dos serviços públicos que nunca chegam ao "respeitável público".
Pena que um dia alguém privatizou tais serviços e as mulheres carentes, os donos de botequim e os moradores dos subúrbios em geral [os mais precisados da atenção de nossos dois bons homens que não mais existem] puderam adquirir seus telefones a um precinho camarada e sem necessidade de recorrer aos encantadores Mingaus e Meus bens da vida. Quanta gente arrumou trabalho graças a eles...

Ouvi dizer que tem gente querendo desprivatizar... Burrice antológica, sem dúvida, se assim o fizerem
Mas toda história tem seu lado bom: Deus haverá de trazer de volta à terra Mingau e Meu bem, não tenho a menor dúvida. E os burros [adjetivo] - da desprivatização - continuarão a sê-lo.