terça-feira, fevereiro 21, 2006

PORTAS FECHADAS

Diferentes pesquisas realizadas pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), pelo instituto Pólis e pelo IBGE (PME-Pesquisa Mensal de Emprego), revelaram que cerca da quarta parte dos jovens brasileiros, entre os 15 e 24 anos de idade [concentrada, sobretudo, em oito principais regiões metropolitanas do país], está sem atividades profissionais ou educacionais [alguma coisa entre 1,5 e 2,0 milhão de jovens].
Acordam por volta de meio-dia, andam de skate, ficam o dia inteiro colados à tela de um computador, vão para as lojas de jogos eletrônicos ou ficam, simplesmente, andando de um lado para o outro no meio da rua, jogando fora conversas com amigos, a grande maioria dos quais na mesma situação que eles. Caminho fácil para a vagabundagem, anteporta para as drogas e para o crime, consideram alguns, com alguma razão.
Quase todos só encontraram portas fechadas ao deixar o ensino fundamental: nas faculdades ou no trabalho [naquelas, pela falta de vagas ou de recursos para se manter estudando; neste, pela falta de experência]. Cimar Azeredo Pereira, gerente da PME, tenta uma explicação: "Muitas vezes, por causa da dificuldade de encontrar uma vaga, eles desanimam e param de procurar até que a situação melhore. Muitos podem estar estudando em casa ou fazendo cursos esporádicos". Mas existe o lado familiar, as pressões quase que diárias [com razão?] da família, que não facilitam a descoberta de opções razoáveis para que dêem continuidade a suas vidas: "Não quero vagabundo em casa! Vai trabalhar, seu inútil".
Eliane Ribeiro, professora da Faculdade de Educação da Uerj [coordenadora, com outras, da pesquisa do Ibase] tenta explicar: "Pode parecer que ficam todos parados na esquina, sem fazer nada. Muitos estão procurando emprego ou vinculados a projetos sociais. Eles não estão nessa situação porque querem. Alguns saíram da escola porque repetiram várias vezes. Outros tentam entrar numa universidade ou conseguir um emprego, mas neste país isso não é tão simples".
Outras opiniões de estudiosos da questão:
"Eles dizem que, sem experiência, não conseguem se inserir no mercado de trabalho. No entanto, sem a inserção, também nunca terão essa experiência. Muitos reclamaram ainda de preconceito por causa de sua aparência. Dizem que não conseguiram um emprego por causa da cor da pele ou porque não usam a roupa ou o cabelo da moda" [Patrícia Lânes, pesquisadora do Ibase].
"O trabalho se tornou um bem tão escasso que gera uma angústia nesses jovens. As pesquisas feitas com eles mostram uma preocupação grande de "sobrarem" no mercado de trabalho [...] É preciso avaliar por que esses jovens não estão na escola. É porque não há oferta? Faltam vagas noturnas? É preciso uma escola que faça sentido para esses jovens e que os ajude a entrar no mercado", Helena Abramo, organizadora do livro "Retrato da Juventude Brasileira".

Em seu "tour" pela reeleição [na semana corrente] o presidente Lula da Silva está a inaugurar pedras fundamentais de "campi" avançados de universidades em diversos municípios do Brasil. Além do DF, por outro lado, já são 14 os estados brasileiros que contam com universidades públicas que adotaram o "milagroso" sistema de cotas [50% das vagas na Universidade Federal do Amazonas, por exemplo, são reservadas para alunos do interior; que não se preocupem as mulheres negras das Alagoas: há uma subcota para elas na Universidade Federal de seu estado].
Será que foi descoberto o "ovo de Colombo" e nós não sabíamos?